22 Janeiro 2019
Os pontos sutis, difíceis, mas importantes do acordo entre a China e o Vaticano.
A informação é de Francesco Sisci, publicada por Settimana News, 19-01-2019. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
Nos últimos dias, um artigo da agência de notícias Central News Agency de Taiwan baseado na entrevista de Gianni Valente com o professor Liu Guopeng, membro da Academia Chinesa de Ciências Sociais, causou controvérsias sobre a China.
Basicamente, o artigo afirma que a academia tem relação com o Conselho de Estado, e, portanto, seria uma voz oficial. Essa afirmação deve-se ao fato de o acordo entre a China e o Vaticano reconhecer o poder supremo do Papa de apontar os bispos e, na realidade, vai contra a constituição chinesa, que estipula a liderança absoluta do partido e proíbe a interferência de estrangeiros nos assuntos internos da China. Ou seja, o artigo aparentemente desperta oposição interna contra o presidente Xi Jinping e a liderança do partido atual, que traiu sua formação com a assinatura do acordo.
Parece uma armadilha inteligente: se a Santa Sé disser que esta seja a natureza do acordo, geram-se conflitos internos entre os católicos, sendo que alguns foram contra o diálogo com a "diabólica China comunista". Se não disser nada, significa que realmente apoia quem levanta polêmicas internas na China, que pode querer usar o acordo com o Vaticano para se opor ao presidente Xi. Muitas autoridades se irritaram com a campanha anticorrupção do professor e com sua tentativa de satisfazer as demandas comerciais dos EUA nas tensas negociações que estão em andamento.
Seguem, abaixo, as firmes respostas de Liu Guopeng contra os mal-entendidos gerados pela entrevista, traduzidas do inglês.
No entanto, talvez algo na entrevista não tenha ficado claro o suficiente. A base do reconhecimento político do acordo é que o Partido Comunista Chinês, marxista e materialista, não tem poder sobre a esfera religiosa porque é ateu, ao contrário do imperador de antigamente, que tinha atributos religiosos.
Ao mesmo tempo, por razões práticas, com documentação abrangendo mais de 15 anos, o partido reconheceu a valiosa contribuição da religião para a construção de uma sociedade harmoniosa. Além disso, a Igreja é uma instituição religiosa, ou seja, sem ideologia política.
Portanto, o acordo decorre de uma distinção clara entre política e religião. Neste contexto, tendo em conta que a religião católica requer a unidade de todos os católicos com o Bispo de Roma, o partido teria de admitir esta característica, que, mais uma vez, não é política, mas religiosa.
Talvez o equívoco de grande parte da mídia a respeito dessa difícil questão esteja em não delimitar os limites entre política e religião, que é um valor ocidental fundamental desde o Iluminismo, no século XVIII. Essa diferença é extremamente importante, porque teoricamente abre uma nova perspectiva para a China e para o mundo.
No dia 14 de janeiro de 2019, a plataforma Vatican Insider, ligada ao La Stampa, publicou minha entrevista com o jornalista italiano Gianni Valente sobre o "acordo provisório" entre a China e o Vaticano. O artigo que se originou do conteúdo da entrevista foi publicado em três idiomas: italiano, inglês e espanhol.
A entrevista teve como objetivo enfatizar que foi a duras penas que se conquistou o marco histórico do "acordo provisório" entre a China e o Vaticano, assinado em 22 de setembro de 2018, e que o lado chinês reconheceu o poder supremo do Papa, a Igreja Católica chinesa e a comunhão geral da Igreja Católica mundial. Inesperadamente, Huang Yashi, jornalista da Central News Agency de Taiwan, deliberadamente distorceu e descontextualizou as minhas palavras, e colocou na minha boca muito conteúdo especulativo.
Como nos seguintes trechos: “Liu Guopeng declarou que o princípio da gestão independente [nota do tradutor: da Igreja na China, um princípio básico de gestão religiosa no país] acabou” e “ Liu Guopeng declara que o princípio da independência [de religião na China]” foi abolido, postura completamente diferente da posição oficial anterior do Partido Comunista da China.
Depois, a notícia falsa apareceu em publicações como Ming Pao, de Hong Kong, Duowei Network, AFP, Lianhe Zaobao, Reuters, etc. E foi republicada por grande parte das mídias chinesa e internacional. Nenhum desses veículos respeitou ou adotou o conteúdo da fonte real, o Vatican Insider (que agora conta com uma tradução chinesa). Além disso, metade das notícias falsas leva meu nome original e a outra metade “abreviou” para Liu Peng, me confundindo com o famoso estudioso.
Reitero que, como acadêmico, estou apenas preocupado com uma visão racional e objetiva e com uma base confiável para analisar e pensar sobre as questões no meu campo profissional. Não tenho a intenção nem a possibilidade de substituir as autoridades nacionais como uma espécie de porta-voz da política religiosa. Também não pretendo ultrapassar meus limites nem busco cargo político. E reconheço as fronteiras entre o mundo acadêmico e o mundo político.
Dos responsáveis pela agência de notícias Central News Agency de Taiwan e do jornal Ming Pao de Hong Kong, bem como do Duowei Network, AFP, Lianhe Zaobao, Reuters, entre outros, não exijo uma análise pormenorizada da questão, apenas manifesto em silêncio o meu desprezo e profundo pesar.
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Pontos importantes do acordo entre a China e o Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU